terça-feira, 15 de setembro de 2009

As melhores famílias

As melhores famílias têm prostitutas.
As melhores famílias têm amantes.
As melhores famílias têm filhas grávidas antes dos 15 anos.
As melhores famílias têm Amélias.
As melhores famílias têm Leilas Diniz.

As melhores famílias têm drogados.
As melhores famílias têm canalhas.
As melhores famílias têm ladrões .
As melhores famílias têm filhos que roubam os pais.

As melhores famílias têm patriarcas jogados em asilos.
As melhores famílias têm crianças com síndrome de down.
As melhores famílias têm mulheres que não conseguem engravidar.
As melhores famílias têm viciados em Big Brother.
As melhores famílias têm noveleiros.
As melhores famílias têm empregadas que dão pros patrões.

As melhores famílias têm anoréxicas.
As melhores famílias têm repetentes.
As melhores famílias têm alcoólatras.
As melhores famílias têm bulimicas.
As melhores famílias têm obesos.
As melhores famílias têm depressivos.
As melhores famílias têm hipocondríacos.
As melhores famílias têm AIDS.

As melhores famílias têm desquitados.
As melhores famílias têm desempregados.
As melhores famílias têm gays.
As melhores famílias têm deficientes físicos.
As melhores famílias têm dívidas.
As melhores famílias têm ovelhas negras.

As melhores famílias têm pedófilos.
As melhores famílias têm fome.
As melhores famílias têm câncer.

As melhores famílias têm sobrenome.
As melhores famílias têm passado.
As melhores famílias têm tudo.
As melhores famílias têm nada.

Mensagem Invi$ivel

Semana passada me perguntaram por que motivo eu não deixo que paguem a minha conta no bar. Não foi a primeira vez que ouvi essa pergunta. Mas foi a primeira que eu não soube responder em um bate-volta imediato. Talvez eu tenha perdido um pouco da convicção do discurso.

Eu já soube defender isso sob a ótica do feminismo, de que quem deve pagar a sua própria conta é quem a consome. Defendendo a divisão igualitária de tudo. Mas acho que essa tese já foi por água abaixo. Estamos em um tempo em que até as mulheres aprendem a ser um pouco machistas, encarando as atitudes que a transformam em uma bonequinha de cristal como uma gloriosa cordialidade masculina.

Não sei mais defender de forma ferrenha que eu devo pagar a minha conta – mesmo que seja uma única Coca-Cola. Mas meu instinto, talvez até o próprio hábito, defende que eu não devo dar despesas a quem não tem nenhuma responsabilidade por mim. Mesmo que eu entenda o certo lirismo que há em um homem insistir em pagar a conta.

E então eu me lembro daquela piada machista, já proferidas pela boca de muitos, que, rindo ao mesmo tempo em que falam, afirmam que uma prostituta sai mais em conta do que sair com uma mulher que possa ter interesse real neles, porque a meretriz custará tanto ou até menos que um caro restaurante, não terá direito a reclamações, além de que chegará no mesmo caricato (ou não) objetivo final masculino: obter sexo no final da noite. Talvez a piada generalize pra um lado tanto quanto um feminismo de pagar a própria conta acabe generalizando pro outro. Ambas ignoram aquele entremeio subentendido e encantadoramente cortês de ter uma conta paga.

Apesar de alguns furos atuais na convicção, ainda tenho certeza que pagar a minha conta é uma forma implícita de dizer que ali a relação não é econômica. Mesmo que essa compreensão seja despercebida pelo outro. É um jeito de me dar liberdade total de convidá-lo para ir do buteco mais barato ao restaurante mais caro da cidade, porque estou interessada na companhia – e não na conta bancária.